Corrído

Não sei apeteceu-me escrever corrido sem pensar palavras sem sentido para mim para ti numa sala fechada contra a meia luz duma candeia que abana num fim de tarde sombrio num dia sem estação sem frio nem calor num silêncio soturno só oiço o bater do meu coração e escrevo até não poder mais sinto comichões nos dedos saudades de escrever de ver reflectido no papel os meus pensamentos os meus devaneios as minhas ilusões as minhas alegrias as minhas tentações as minhas frustrações e escrevo corrido escrevo a correr contra o tempo que escasseia contra a tinta da caneta que acaba contra a tecla do teclado que encrava contra a net que teima em bloquear escrevo contra tudo e contra todos e continuo a escrever sem parar até o papel acabar até a mão se cansar escrevo-te a ti para te dizer o que penso escrevo para mim sem pensar não sei se vou parar não consigo travar a vontade que me impulsiona que faz a minha mão avançar mas sabes escrevo porque quero-te contar um segredo segredo quererás tu ouvir põe o ouvido ao pé de mim sem medo que baixinho te contarei o meu segredo mas diz-me queres ouvir não olhas para mim passas e me ignoras e eu só te quero contar um segredo antigo que só para mim não quero guardar e escrevo sem parar tu não paras para me ouvir o segredo sabes ficara sempre para mim….